sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Passeando pelas ruas, avisto à janela de uma casa antiga o seguinte anúncio: precisa-se. Vago demais - pensei, e resolvi perguntar o que esse tal alguém deveria fazer, vai que me qualifico, dinheiro nunca é demais. ao menos não quando seus sonhos dependem dele.
Toquei a campainha cor-de-rosa da casa e ela veio, com o olhar mais triste do mundo, mal me encarando. abriu a porta, conversando comigo por entre as grades.
- O que você quer? - ela disse
- Err... - super envergonhada com a pergunta direta - gostaria de saber o que é preciso que esse alguém faça.
E então, com um leve aceno de cabeça, ela me mandou entrar.
Sentei no seu sofá vermelho-carmim-super-macio e fiquei esperando enquanto ela me trazia um copo d'água. Então sentou ao meu lado e começou a falar.
Ela havia perdido o seu grande amor, a razão do seu viver e dos suspiros. Havia perdido, junto com isso, as borboletas, as felicidades, angústias, esperas e enfim, tudo o que uma vida tem quando existe amor.
- Porque ele lhe deixou? - perguntei, meio hesitante.
- Um novo amor daqueles de arrepiar, sabe? - ela disse, conformada.
Um breve silêncio azul pairou sobre o ar, após essa resposta. E então lembrei-me do anúncio. Precisa-se. Eu ainda não havia entendido. Perguntei.
- Bom... Precisa-se de sinceridade, sabe. E de mais afeto. De mais carinho e sorrisos sinceros. Precisa-se de bom humor e de uma voz que cante nesta casa - o que eu não faço mais, por falta de força. Precisa-se de alguém que me abrace forte depois de um dia estressante e diga 'vai ficar tudo bem, porque eu estou com você'. Precisa-se de um colo amigo pra ajudar a curar as consequência dos problemas que eu mesma invento. E precisa-se, acima de tudo, de um amor puro e sincero, capaz de fornecer tudo isso em troca de, quem sabe, reciprocidade sentimental, apenas.
Saí dali andando pelas ruas de paralelepípedo que cercam a casa da moça, pensativa. Aquele olhar persistiria em seu rosto durante quanto tempo? E, acima de tudo, será que ela não enxerga que, a grande beleza em sofrer por amor é simplesmente aprender a evitar todo e qualquer tipo de situação vinda pela frente?
Minha vontade era chacoalhá-la e fazê-la enxergar cada pedacinho de aprendizado que ela deveria tirar de tudo que vivera, mas não cabia a mim, e sim a ela mesma, aprender.
Entrei no ônibus e observei o oceano, enquanto o sol começava a se pôr.
É, vida - pensei. Algum dia a gente se entende...

0 comentários: