Sinto teu toque em meus pêlos através do vento que entra pela janela escancarada desse quarto imundo da tua ausência. Essa escuridão incandecente que me cega os sentidos, a saudade acumulada em meus poros; a camisa que um dia foi tua.
Acabei de ler aquele livro que, de tão bonito, fincou feio em mim. Fecho os olhos na esperança de conseguir sentir aquele nosso primeiro abraço em Foz e na vida; lembro das lágrimas caindo no teu rosto cinza da falta de sol daquela manhã na rodoviária.
Será que todas as manhãs em rodoviárias são assim tão doridas?
Preciso de você a cada instante que finjo existir estando a quilômetros de distância das linhas do teu corpo. Será que você necessita de mim tanto assim? Lembro que quando tava perto era tão ruim quanto. Eu tinha saudade, mesmo com você dentro de mim; a única diferença é que não doía como um tumor que se espalhou pelo corpo e não sara.
Tem em você algo de colossal e magnífico semelhante à luz que me cegou no meu primeiro contato com o mundo fora de uma placenta. O mesmo choro tá agora engatado no meu peito. Será que você também dói assim? (espero mesmo que não)
Quero te proteger. Minhas mãos estão tão nuas. Preciso ter nelas o caminho escrito nas tuas, além dessa aliança de metal frio e sentido quente que me habita o dedo anelar esquerdo.
(...)
Felipe.
(...)
Acho, ás vezes, que te inventei pra mim como você me inventou pra si. Juntos criamos a nós. Dizem que somos parecidos, mas do que eles sabem? Eles brigam sem se falar, eles reclamam de quem chora, comem uma mulher diferente a cada noite, amam quem ama outrém, mudam sem saber porque.
Quem são eles?
Penso no avião que entrarei daqui a uma primavera. Será que alguém vai imaginar que alguém dentro daquele espaço tão pequeno vai estar indo em direção não só de Foz, mas dos melhores anos? Será que eles sabem o que é vida? Eu sei. Tem nome, cor, cheiro. Tem e é tudo. E é meu (pronome possessivo mesmo).
Seria loucura demais sair de casa a pé ás 03:42 da manhã de uma quinta-feira pra te encontrar do outro lado do país? É que, veja bem, preciso do seu colo pra dormir. Do seu sorriso pra ser.
(...)
Chuáchuá, faz a água perto de você.
Chuáchuá faz a água que desce dos meus olhos.
Será que já choramos a quantidade de água que cai durante um segundo nas Cataratas do Iguaçu?
(...)
Você carrega tanta coisa nos olhos, não deveríamos deixar eles tanto tempo longe dos meus beijos. Eles se precisam.
Me culpo por ainda saber que o céu é azul. Aprendi a verdade nisso naquele domingo no gramadão. As nuvens inexistentes de Foz, quase sendo fumaça de chaminé. O sol do teu sorriso me mostrou o anil da tua alma. Seria loucura demais pensar assim?
Me deixa mergulhar, então.
Com Amor, Alice.
P.S.: Ouvir Acabou Chorare ao acabar de ler. De preferência, a versão do cd Infinito Circular.
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
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1 comentários:
Ai, doeu de tão bonito.
não vou dizer que eu chorei, porque eu choro muito, mas tocou ;~
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