Só mais um.

É que hoje é só mais um dia de fazer tudo errado e, simplesmente, culpar os outros. Mais um dia no qual você vai olhar pra mim com aquele jeito triste, nervoso e ansioso, pensando se eu vou falar contigo, enquanto eu simplesmente ignoro a sua existência, como aprendi a fazer.
Porque hoje o dia acordou mais frio pra você. Estais triste. Te deixaram amando, a mando, ou am ando, sei lá. Tanto faz. Porque você só pensa em si, e no que sente, e no quanto dói dentro de você. Em nenhum segundo acha que ela também sofra, né? Pára pra pensar. Você diz que eu não sei absolutamente nada de ti, mas é o inverso. Tu que não me conheces.
És tu quem não sabe dos meus poderes, dos meus truques e dos meus olhares profundos na alma alheia. Você nem faz idéia da minha capacidade de entender pessoas por saber quem são suas amigas, ou seus artistas favoritos, ou por saber que quando elas contam histórias, elas se favorecem, ou não, e que com isso elas sempre querem alguma coisa de quem tá ouvindo o que dizem. Nem preciso estar lado a lado com essas pessoas, ou já ter ouvido suas vozes. Eu simplesmente sei.
Nunca paraste pra pensar em quanto doeu pra mim te perder. Não digo perder os teus beijos, abraços, aquela voz ao telefone, chorando; Disso eu não senti falta, não de verdade. Doeu perder quem eu achava que você era. Sabe, que nem o Gigante Adamastor, quando descobre que não é sua amada sereia ali, posando pra ele, e sim apenas um pedaço de pedra. Foi assim que eu me vi. Beijando, abraçando, falando com vozes e gestos especiais a um pedaço rochoso do que, supostamente, deveria ser gente. Ou, pior ainda, deveria ser amor.
Uma pedra, sim. Foi isso que eu te descobri ser, e foi isso que você se tornou pra mim, e provavelmente, pra ela. Quem sabe você não foi assim também pras outras? Talvez só você saiba. Talvez você saiba quão ruim consegue ser, talvez goste disso. Ou, quem sabe, isso te doa tanto, mas tanto, que você prefere continuar fazendo pessoas já machucadas sofrerem mais, só pra você não se sentir assim, tão sozinha, nesse mundo escuro e mórbido que é sofrer de amor, de não amar.

É que esses foram só mais alguns beijos desperdiçados em você; Foram só mais alguns abraços debruçados, arrancados de braços amáveis e gentis; Foi só mais um poço de amabilidade que surgiu pra você, e que foi em vão. E esse vai ser seu lema de vida. Você vai conhecer a pessoa com quem poderá ser extraordinária, que não vai merecer todo o meu ciúme, toda a tua hipocrisia, todo o teu desleixo. E você vai perceber, porque a gente simplesmente percebe. Tá no nosso olhar, na nossa respiração. Então, quando você conhecê-la, eu vou sorrir. Vou pensar 'trabalho completo'.
Você não vai mais ter medo de me ver por aí. Vais me abraçar como a uma velha amiga, vais me apresentar o amor da tua vida. No auge da tua felicidade, ela vai te deixar. Porque não quer te prender, não quer ter que te carregar nos ombros, não quer ser tua responsável. Porque ainda não sabe amar, ainda não entende que amor vai muito além de ter que se esconder do mundo.
Você vai chorar feito quem já chorou por ti e vai entender, de uma vez por todas, que com amor não se brinca. Que o coração dos outros é tão lindo quanto o que tem dentro de você.
E vai se arrepender de não ter aproveitado direito os amores que lhe deram. Então, nesse dia, eu volto pra ti. Te dou um abraço tão quente que você vai querer que seja inverno, só pra ter um pretexto de tê-lo de novo. E nós ficaremos caladas, envoltas por uma névoa alaranjada, do calor. E eu vou cuidar de ti, como nunca deixei de fazê-lo. Na minha mente. No meu coração. Porque eu sempre, sempre vou ser o seu duendinho, a sua ultima esperança, que aparece quando você menos espera, pra te salvar.






Ou não.